A Igreja da Aldeia" e uma breve estória – Mário Silva (IA)
"A Igreja da Aldeia"
e uma breve estória
Mário Silva (IA)
"A Igreja da Aldeia" de Mário Silva é um desenho digital monocromático, predominantemente em tons de sépia ou grafite, que retrata uma igreja rural em estilo românico ou barroco simples.
A composição é centralizada na igreja, com uma torre sineira proeminente no lado direito e uma fachada principal ornamentada.
O desenho é caracterizado por um uso expressivo de linhas e “hachuras” para criar volume, textura e luz, conferindo-lhe uma qualidade quase artesanal e intemporal.
A igreja é flanqueada por vegetação densa e um muro de pedra em primeiro plano.
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E, agora, a estorinha ….
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O sol de final de tarde, embora invisível no desenho, parecia beijar os contornos da Igreja de Santa Maria do Além, a joia esquecida da pequena aldeia de Monte do Vale.
Era sempre assim que a Maria, a velha sacristã, a via.
Não apenas um amontoado de pedras e cal, mas uma sentinela silenciosa, guardiã de segredos e orações murmuradas ao longo dos séculos.
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Aquele desenho, feito pelo Mário, o rapaz da cidade que viera passar o verão, captava a essência da igreja de uma forma que as fotografias coloridas nunca conseguiam.
A torre, esguia e orgulhosa, com a sua cruz apontada para um céu que agora só existia na imaginação do Mário, parecia clamar por histórias.
Maria lembrava-se do avô, que lhe contara como o sino, agora um ponto escuro na sombra, tinha tocado a rebate durante as invasões francesas, e como o seu som, misturado com o ranger das portas, ecoava nas colinas.
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As “hachuras” no desenho, meticulosamente traçadas por Mário, pareciam as rugas na pedra, cada uma contando uma tempestade, um inverno rigoroso, a passagem de gerações.
A entrada principal, com o seu arco esculpido e as portas pesadas, parecia convidar a um recato imediato, um alívio do mundo exterior.
Ali, incontáveis noivos tinham trocado promessas, incontáveis bebés tinham sido batizados e, demasiados, tinham sido despedidos na sua última viagem.
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O arvoredo à esquerda, com os seus galhos retorcidos e a folhagem desenhada com traços frenéticos, era a cerejeira que o Padre Joaquim plantara há mais de cem anos.
As crianças da aldeia, quando miúdas como a Maria fora, trepavam aos seus ramos, roubavam as cerejas e depois confessavam os seus "pecados" ao mesmo padre, que lhes sorria, compreensivo.
E o muro de pedra, rude e firme, era o limite entre o sagrado e o quotidiano, onde os homens se sentavam ao fim da tarde a discutir o tempo e as colheitas, e as mulheres trocavam as últimas novidades.
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Mário tinha captado a alma daquela igreja.
Não era perfeita, tinha a sujidade e as marcas do tempo, como a mancha escura na parede que ninguém sabia de onde vinha, mas era real.
Era a Igreja da Aldeia, o coração da comunidade, e no seu silêncio desenhado, Maria podia ouvir todas as vozes que ali se tinham elevado, todas as esperanças e todas as dores que as suas pedras tinham absorvido.
E nesse dia, enquanto olhava para o desenho, Maria sentiu um conforto profundo.
A igreja estava ali, forte e imutável, tal como a fé que nela se abrigava, resistindo ao tempo, uma “hachura” de cada vez.
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Nota: “hachura” é uma técnica artística utilizada para criar efeitos de tons ou sombras a partir do desenho de linhas paralelas próximas. O conceito principal é o de que a quantidade, a espessura e o espaçamento entre as linhas irão afetar o sombreamento da imagem como um todo e enfatizar as formas, criando ilusão de volume, diferenças na textura e na cor. As linhas tracejadas devem sempre seguir o formato do objeto desenhado. (https://pt.wikipedia.org/wiki/Hachura)
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Texto & Desenho digital: ©MárioSilva
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