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Mário Silva _ Arte (AI)

" Se arte é definida como qualquer criação humana que expresse beleza, criatividade ou significado, então as obras de IA podem certamente ser consideradas arte."

Mário Silva _ Arte (AI)

" Se arte é definida como qualquer criação humana que expresse beleza, criatividade ou significado, então as obras de IA podem certamente ser consideradas arte."

"A Guardiã do Inverno" - um conto transmontano

Mário Silva, 20.11.24

"A Guardiã do Inverno"

um conto transmontano

19Nov A guardiã do Inverno_ms

Naquela manhã de inverno em Trás-os-Montes, onde o frio agreste dominava a paisagem, Dona Maria ajustou o xaile negro de lã sobre os ombros enrugados.

Era um daqueles dias em que o céu baixo e plúmbeo despejava neve sobre a aldeia, cobrindo os telhados das casas de granito com um manto branco e silencioso.

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A lareira, alimentada por grossos toros de carvalho da Serra da Nogueira, era o coração pulsante da casa antiga.

O fogo dançava e estalava, projetando sombras tremulantes nas paredes de pedra, enquanto o aroma característico da madeira queimada preenchia o ambiente.

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Sentada em sua cadeira de vime, tão antiga quanto as suas memórias, a velhinha observava através da pequena janela as ruas estreitas e tortuosas da aldeia, agora desertas.

O vento uivava pelos cantos da casa, encontrando frestas invisíveis por onde se infiltrava, fazendo-a apertar mais o xaile contra o corpo magro.

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Na terra onde o inverno reina por nove meses, o silêncio tinha uma presença quase física.

Era um silêncio diferente, próprio das aldeias transmontanas, quebrado apenas pelo crepitar da lenha e pelo assobio do vento nas telhas.

De vez em quando, um floco de neve mais ousado rodopiava próximo à janela, como se dançasse uma dança solitária.

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Os olhos cansados de Dona Maria, da cor das castanhas maduras, refletiam as chamas enquanto suas mãos enrugadas ajustavam mais uma vez o xaile.

Na solidão daquela casa vazia, onde cada canto guardava histórias de tempos mais movimentados, ela era a guardiã das memórias, do calor e do silêncio.

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O dia foi escurecendo lentamente, como sempre acontece nos invernos rigorosos de Trás-os-Montes.

As sombras alongaram-se, e a neve continuava a cair lá fora, suave e constante, enquanto Dona Maria permanecia na sua vigília silenciosa, aquecida pelo fogo e envolta em pensamentos tão profundos quanto o próprio inverno transmontano.

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A casa, embora vazia e silenciosa, estava cheia da presença desta mulher forte, moldada pelo tempo e pelo clima extremo desta região única de Portugal, onde o inverno não é apenas uma estação, mas um estado de espírito que marca a alma de seus habitantes.

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Texto & Pintura (AI): ©MárioSilva

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